sexta-feira, 1 de junho de 2007

Uma lição de como fazer: Nintendo domina o mundo

A Nintendo é a nova Sony.


É uma frase feia, e deve agradar a tantas pessoas como desagradará a outras, pelos mais variados motivos; mas é a verdade.


No Natal de 1994, viu a luz do no Japão, a consola que iria para sempre mudar a mentalidade do mundo em relação a videojogos. A Playstation. A obra máxima de Ken Kutaragi, aliada à imparável máquina de marketing da Sony e a um catálogo crescente de jogos variados, retirou os videojogos do gueto. Os videojogos deixaram de ser o passatempo dos nerds, dos ineptos sociais, e passaram a ser, aos olhos de muitas pessoas, uma forma de entretenimento válido ou ao menos algo mais socialmente aceitável.


O mercado expandiu e a Sony construiu um império sobre a carcaça de uma moribunda Sega e de uma saudável mas demasiado conservativo Nintendo, império que parecia inviolável, dominando cada canto do globo.


Um império que ainda é muito forte, mas hoje já não domina, e está longe de parecer inviolável.


Uma Nintendo revitalizada pelo novo presidente Satoru Iwata, que sucedeu à presidência em 2002, começou por assegurar o domínio do mercado portátil, e hoje, contra todas as expectativas, está pela primeira vez desde a década de 80, com a máquina caseira mais procurada, a máquina portátil mais vendida, e o jogo mais vendido do ano.


É uma mostra de poder fenomenal, um verdadeiro renascer da fénix. E o mais irónico é a semelhança do que acontece hoje com a Nintendo com o que aconteceu no passado com a Sony.


A Nintendo DS, e posteriormente a Nintendo Wii -- máquinas que apresentam tecnologias conhecidas aplicadas de forma inovadora aos videojogos (como na altura o eram o leitor de CDs e o chip gráfico da Playstation); mas sobretudo, máquinas que incentivam a comunidade de programadores para desenvolver para elas em virtude de serem algo diferente; e, ainda mais essencial, máquinas apoiadas por uma colossal campanha de marketing que parece fazer tudo certo, mostrar todas as coisas certas e dizer todas as frases chave -- as voltas que o mundo dá, quando reparamos que agora é do marketing da Sony que desdenhamos e o da Nintendo que elogiamos.


E, tal como a Playstation, as consolas da Nintendo não se limitam a vender a quem já jogava jogos -- pela primeira vez desde a consola da Sony, vemos um novo alargamento do mercado, o mercado que a Playstation alargou aos nossos amigos e namoradas, a Wii e a DS alargam aos nossos pais, avós, e ás namoradas mais resistentes ao mundo dos videojogos.


Se há algo que tenho medo, no entanto, é de que a Nintendo se fique por aqui. É inegável -- basta ter seguido o seu mais recente evento para perceber -- que a companhia se está a focar cada vez mais no sector dos jogos casuais, os jogos que alargam o mercado; jogos que pouco ou nada interessam à maioria dos jogadores que cresceram com Sega, Nintendo ou Sony.


As suas ofertas para este jogador -- para o qual a companhia até já definiu o cunho de "core gamer" -- reduzem-se a um punhado de jogos por ano. Fãs da Nintendo vão matando a fome com reedições Wii de jogos PS2 com um ano, jurando a pés juntos que são excelentes ofertas, quiçá mais para se enganarem a si próprios do que a qualquer outro.


Pessoas como eu, entusiastas de videojogos que, não obstante terem as suas preferências, querem tirar o melhor proveito possível daquilo que cada marca tem para oferecer, não podem deixar de se sentir traídos pela posição da Nintendo, que parece ter partido de braços abertos para um novo e lucrativo mercado, deixando os desconsolados fieis para trás, fieis a quem jogos como Brain Training, Nintendogs ou Wii Play pouco ou nada dizem.

É claro, ainda há esperança, a esperança de que o plano mestre da Nintendo seja o de usar os jogos casuais como porta de entrada para o mundo dos videojogos mais complexos e envolventes, converter uma boa percentagem de jogadores casuais no "core-gamer" e consequentemente expandir o mercado para o jogo mais complexo, e equilibrar a sua produção interna de jogos de acordo com isso.

Mas é apenas uma esperança -- o caminho fácil para a companhia é o de continuar a apelar maioritáriamente ao casual, e mesmo que a intenção da companhia seja converter o casual a "core-gamer", resta saber se terá o engenho para isso.

Por agora, preocupações á parte, é completamente claro que a Nintendo estudou bem a lição da Sony, desenvolveu aquilo que aprendeu, e consequentemente, hoje eis que um antigo império se ergue sobre todos os outros, com uma nova face.


Um comentário:

Anônimo disse...

Tipo, o que dizes é correcto, a Nintendo deveria focar-se mais nos "hardcore gamers" através da criação e publicação de jogos mais complexos e maduros nas suas consolas de forma a alargar o seu número de consumidores (e populariedade consequentemente).
Mas por outro lado, se formos a ver, muitas pessoas cresceram com jogos básicos e simples com o intuito de se divertirem e não de se matarem com os bichos de sete cabeças que os jogos mais complexos de hoje em dia conseguem ser.
Eu como gamer, gosto de jogos simples, quanto aos complexos, se forem algo acessivél muito bem, se não forem, tenho muita pena mas não vejo nenhuma graça em jogar um jogo que obriga-nos mais a trabalhar acorrentados ao Sol do que a divertir e a maravilhar-nos.
Mas concluindo, sim, a Nintendo devia tomar iniciativas tal como a Sony tomou para atrair os gamers mais exigentes, e a resposta encontra-se no leque de jogos que hoje podemos encontrar numa PS2 ou X360.