quarta-feira, 20 de junho de 2007

A idade do armário -- uma indústria em crescimento

Estes últimos dias têm sido mornos em termos de noticias. É a bonança antes da tempestade que vai ser a E3 -- ou pelo menos que se espera que seja. A feira de videojogos mais popular do mundo vai, dentro de três semanas, mostrar-se com a sua nova face, uma face muito mais corporativa e dedicada ás empresas participantes e jornalistas seleccionados. Algo que muitos dirão que sempre devia ter sido assim, mas está ainda por determinar se os jogadores irão ganhar ou perder com esta mudança.

Mas não obstante esta calma relativa, há sempre cabeçalhos a ser feitos no mundo dos videojogos.

Refiro-me à noticia -- para muitos chocante? - de que o jogo Manhunt 2 foi banido (antes de sequer ter sido lançado) no Reino Unido. Muita tinta vai correr e muitos blogs se vão escrever sobre isto nas próximas semanas. Palavras e expressões como "decência", "liberdade de expressão", "censura" e "irresponsabilidade" vão ser mandadas a torto e a direito como se fossem armas de arremesso, no que no fundo é pouco mais do que uma birra infantil de uma industria jovem que busca desesperadamente ser reconhecida como adulta.

Os jogadores mais vocais da internet abriram logo fogo contra a mentalidade fechada e pobreza de espírito que as entidades governamentais demonstram, sem se quer porem a hipótese de que a decisão poderá, talvez, ter sido ponderada e justa.

O Reino Unido não bania um jogo há 10 anos -- o ultimo a ter tal dúbia honra foi Carmaggedon -- o que deve decerto demonstrar que não se tratam de pessoas avessas e completamente intolerantes a qualquer mínimo de violência. Não, a decisão não foi tomada com leveza.

Os examinadores foram explícitos -- o jogo foi banido porque glorificava a violência e a execução a sangue frio; foi banido porque era este o propósito do jogo, porque não há prazeres alternativos -- na maioria dos jogos, matar serve um propósito, é uma forma de superar obstáculos com vista a um objectivo; noutros, matar é uma liberdade que temos, mas que acarreta consequências; neste jogo, matar com o máximo de sadismo é o foco do jogo, e é por isso que é considerado como uma obra proibida, de mau-gosto.

Não se pode dizer que isto é um atentado à liberdade de expressão. Viver em sociedade implica a existência de regras, implica a existência de um consenso ético e moral acerca do que é ou não é aceitável, com devida tolerância. Essa tolerância é por vezes excedida -- como é o caso de alguns filmes snuff, livros de mau gosto, ou jogos como Manhunt 2. Esta industria, muitas vezes, tal como um adolescente que quer desesperadamente ser levado a sério, pensa que está a ser maltratada, quando na realidade, simplesmente não percebe que está a ser tratada como todas as outras industrias.

Há muita liberdade de expressão, muita liberdade artística. Basta ver a ultima edição da fanzine "The Escapist", cujo tema desta semana é "o oculto e a mitologia nos videojogos" para perceber que não há tabus nesta industria, que ninguém nos está a tentar sufocar a criatividade.

É apenas uma questão de bom gosto e sensibilidade, de não expor a sociedade -- independentemente de crenças, grupos ou idades -- a obras cuja violência e degradação da vida humana é a única razão de ser.

2 comentários:

Leandro Pinto disse...

Post muito bom, continua ;)

ass: LEANDRO_PT (IC)

Anônimo disse...

Epá é isto mesmo, tens toda a razão. Parabéns por teres conseguido descortinar este acontecimento de uma forma tão "iluminada". ;)