quarta-feira, 23 de maio de 2007

Faculdade e a DS: Final Fantasy III

Durante a semana, a faculdade torna dificil agarrar-me a uma consola caseira. Estudo em Lisboa, a uns bons 100km de casa, e a minha televisão durante "de semana" é uma TV pequena de desenrascar, que provavelmente rachava de vergonha se fosse posta ao lado da Bravia de casa. É uma TV para séries do AXN e da Sic Radical, não tem categoria para ser ligada a uma 360 ou PS3, bolas até jogos de PS2 e GC ficam com mau aspecto.

Tudo isto só por dizer, tempo de faculdade é tempo de portáteis. Eu admito, nunca fui uma pessoa de Nintendo DS. O tipo de experiência que a maioria dos jogos da consola proporciona cansa-me rapidamente, e o ultimo jogo que realmente me manteve agarrado aos ecrãs da portátil foi a obra de CING, Another Code.

Bem, já tenho o remake de Final Fantasy III há uns meses, desde que foi lançado nos EUA. O lançamento Europeu tardou, mas eu ainda não o acabei, precisamente porque não jogo tanto na portátil. Peguei nele mais esta semana, e como acontece sempre que pego nele, penso:

Como é que um jogo com 17 anos pode ser tão interessante?


Não são os gráficos, não. A FMV inicial é impressionante a um nível técnico. As texturas dos cenários e personagens e inimigos são do melhor que se viu até agora na NDS, mas a verdade é que já mal olho para eles. Até porque a maioria das masmorras são tão lineares que basta avançar num sentido em que não haja nenhuma parede para estar a ir para o sitio certo.

Também não é o argumento, que não era particularmente original há 17 anos e só ficou mais estagnado e usado com o passar do tempo.

Mas o sistema de evolução das personagens -- um par de dezenas de classes (profissões), cada qual com uma habilidade própria e uma mão-cheia de nuances em termos estatísticos -- é um sistema que, apesar de básico neste Final Fantasy (nos Final Fantasy V e Final Fantasy Tactics foi levado a um patamar muito mais elevado) continua a ser um dos sistemas mais apelativos do género, e curiosamente muito pouco copiado pela infinidade de RPGs japoneses que plagia tantos outros aspectos da série.

É um prazer estúpido e inexplicável, o de alternar entre várias profissões em cada personagem, para ver como varia a evolução das estatísticas sempre que se sobe de nível, descobrir que profissão dá vantagens contra um particular tipo de inimigo, escolher o equilíbrio ideal de profissões para enfrentar as masmorras mais desafiantes.

Acaba por ser uma revelação, no fundo, acerca do que fazia os jogos antigos terem um sabor diferente. Sem grandes gráficos ou grandes historias, nem sistemas de combate elaborados e variados, nem a recompensa de um grande final cinematográfico, o desafio inerente a um jogo, e divertimento que de dai se retirava, estava quase completamente na desconstrução de um jogo aos seus elementos base, na compreensão dos seus comos e porquês. O jogador jogava ao jogo para compreender e dominar a mecânica do que se passava por detrás do ecrã.

Final Fantasy III parece, por vezes, um jogo aborrecido. O seu portento gráfico desaparece rapidamente para revelar que este é, essencialmente, um jogo com 17 anos.

E é isso mesmo que faz dele uma experiência surpreendentemente invulgar nos dias que corem.

Nenhum comentário: